Seu filho enxerga bem, mas tem dificuldades no dia a dia?
15 de dez. de 2025
O problema pode não estar nos olhos
Você já ouviu que o exame de vista do seu filho está normal, mas, ainda assim, sente que algo não está indo bem?
Visão e Desenvolvimento Infantil: quando o problema não está “no olho”
Quando pensamos em visão na infância, é comum associar esse sentido apenas à capacidade de enxergar letras, formas e imagens com nitidez. Mas a visão vai muito além do olho. Ela é uma função cerebral complexa, construída ao longo do desenvolvimento e profundamente ligada ao comportamento, à aprendizagem e à regulação emocional da criança.
É por isso que muitas crianças “enxergam bem” nos exames oftalmológicos tradicionais, mas ainda assim apresentam dificuldades importantes no dia a dia: tropeçam com frequência, evitam brinquedos de encaixe, não se interessam por livros, têm dificuldade para copiar desenhos, se desorganizam em ambientes visuais muito estimulantes ou parecem “desligadas” visualmente.
Nesses casos, o problema não está no olho! Pode estar em como o cérebro processa a informação visual.
Visão se desenvolve: não nasce pronta
Ao nascer, o bebê ainda não enxerga como um adulto. A visão se constrói progressivamente a partir da experiência, do movimento, da interação com o ambiente e das relações.
Nos primeiros meses de vida, o bebê aprende a:
Fixar o olhar
Seguir objetos
Coordenar olhos e mãos
Integrar visão e movimento
Com o tempo, essas habilidades vão se refinando e dando origem a funções mais complexas, como:
Percepção espacial
Discriminação visual
Coordenação visomotora
Atenção visual sustentada
Esse processo depende de estímulos adequados, tempo de maturação neurológica e experiências significativas. Quando algo interfere nesse percurso, podem surgir dificuldades que impactam diretamente o desenvolvimento global.
Quando a visão impacta comportamento e aprendizagem
Alterações no processamento visual podem se manifestar de formas muito diversas, especialmente na infância. Algumas crianças:
Evitam atividades que exigem olhar com atenção
Demonstram irritabilidade em ambientes com muitos estímulos visuais
Têm dificuldade para organizar o corpo no espaço
Apresentam atraso na coordenação motora fina
Têm baixo interesse por atividades gráficas ou escolares
Em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), TDAH ou atrasos do desenvolvimento, essas alterações visuais são ainda mais frequentes e, muitas vezes, passam despercebidas. O resultado é um ciclo de frustração: a criança não consegue executar a tarefa, o adulto insiste, e o comportamento se desorganiza.
Visão, cérebro e neuroplasticidade
A boa notícia é que o cérebro infantil é altamente plástico. Isso significa que ele é capaz de se reorganizar a partir de experiências direcionadas e repetidas, especialmente nos primeiros anos de vida.
Quando identificamos precocemente dificuldades no desenvolvimento visual e oferecemos:
Estímulos adequados
Brincadeiras direcionadas
Intervenções interdisciplinares
estamos literalmente criando novas conexões neurais. A visão deixa de ser apenas uma função sensorial isolada e passa a se integrar de forma mais eficiente ao movimento, à linguagem, à atenção e à aprendizagem.
O papel do brincar no desenvolvimento visual
O brincar é a principal ferramenta de desenvolvimento da infância — e isso inclui a visão.
Brincadeiras simples, do cotidiano, como:
Empilhar blocos
Encaixar peças
Jogar e pegar bola
Brincar de esconde-esconde
Folhear livros juntos
estimulam de forma natural e potente as habilidades visuais. Quando o brincar é ajustado à fase do desenvolvimento da criança, ele promove aprendizado, autonomia e prazer — sem sobrecarga.
Quando buscar uma avaliação mais ampla?
Se a criança apresenta dificuldades persistentes relacionadas ao uso da visão no dia a dia, mesmo com exame oftalmológico normal, é importante ampliar o olhar.
Avaliações que considerem:
O desenvolvimento global
O comportamento
A integração entre visão, movimento e atenção
Podem fazer toda a diferença no planejamento terapêutico e no prognóstico.
Conclusão
Visão não é apenas enxergar. É perceber, interpretar, organizar e responder ao mundo. Quando entendemos a visão como uma função cerebral em desenvolvimento, conseguimos olhar para a criança de forma mais completa, empática e eficaz.
Identificar dificuldades precocemente, respeitar o tempo de cada criança e investir em experiências significativas — especialmente através do brincar — é um dos caminhos mais potentes para favorecer o desenvolvimento infantil.
Procure profissionais capacitados para ajudar seu filho .O Pediatra é o profissional que acompanha a saúde física, emocional, comportamental e psicológica das crianças desde seus primeiros dias.
